terça-feira, maio 20, 2008

O Livro Branco

Desde à algum tempo que tenho trabalhado com o conceito de livro branco,
que no conhecimento geral se encaixa em serem livros que estão abertos e servem de base a uma discussão sobre algum assunto que naturalmente se encaixe em algum fenómeno social.
Temos o livro branco da juventude, das relações laborais, do desporto, da ciência... sei lá, estou certo que conhecerão outros mais.

Ora bem... depois de definidos os conceitos e apresentadas as ideias... passo a explicar o leit motiv de um texto meu sobre isto.
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Eu adoro transportes públicos, adoro ver, olhar, tocar, sentindo a génese Sartriana do comportamento humano(?) desde o jorrar matinal até ao poente murchar do final do dia solar.
Nada melhor do que começar o dia a tentar perceber, imaginar, rescrever, refazer o dia-a-dia de cada pessoa que se desenha ao meu olhar...
Ao mesmo tempo aproveito o bendito Metro diário (o único espaço onde tenho liberdade mental) para ler o meu caro Keil do Amaral...
estes 20 minutos são para mim como o cheiro do café ao acordar.

Então na sexta feira passada ia para casa e à minha frente está uma senhora a ler um livro... branco.
Imediatamente percebi que estava forrado a branco... e imediatamente pensei...
"que horror de gosto... forrar um livro com papel branco para proteger..." pensei que se perderia o próprio cheiro do livro, que se estava a vestir o livro com um fato de treino e mocassins num domingo de centro comercial... sei lá... gosto alternativo, pronto.
Na segunda feira de manhã encontro uma pessoa diferente com um livro forrado com papel branco...
Imediatamente acaba o sentido de moda, de mau gosto... para passar a ser um fenómeno comportamental, comprovado pela manhã do dia de hoje onde mais uma senhora se sentou à minha frente com um livrinho branco forradinho.

Avento (adoro aventar) as hipóteses...
- uma questão de privacidade "eu leio o que quero e o que leio é só meu!!!"
- uma questão de insegurança "não quero que me julguem pelo que leio..." ai os pre-conceitos
- uma questão de perda da pseudo-intelectualidade "não quero que me vejam a ler um livro do..."
entre outras tantas possíveis razões...

mas acabo por pensar que pelo menos estas três possibilidades são, qui ças, as mais freqüentes.
o que me mata bastante.

estas pessoas ao fazerem isso, para além de me fazerem sorrir no canto da minha igual pseudo-intelectualidade... é como se me batessem com o livro forradinho.

Eu viro assim o ombro, encolho-me ligeiramente para o lado e digo: vá... bata-me lá! bata mesmo... a sério!

2 comentários:

Anónimo disse...

por acaso é algo q ja me tinha ocorrido fazer... forrar "o" livro que ocasionalmente anda cmg, na mala, na mesa, no balcao, no banco de jardim, na relva da gulbenkian... por uma questao de preservação da capa... e isso poderá ser uma possivel resposta ao teu dilema do "livro forrado com papel branco". mas depois, parei, pensei... e conclui q a essencia de um livro, de ler um livro, é mm essa, usa-lo, suja-lo, dar-lhe vida. e nesse momento, apercebi-me que nao fazia qq sentido forra-lo. é interesante reflectirmos por coisas tao simples como esta, mas ai está poderá ser apenas uma questao de gosto pessoal. *

Bernardo Levi Teodoro disse...

não são muitas as vezes que aparecem coisas que nos façam questionar os nossos movimentos, os nossos gestos, palavras, entre tantas cerimónias diárias que realizamos religiosamente, sem saber porquê. Por vezes paramos e perguntamos porquê... qual a relação mais ou menos metafisica que temos com os elementos que nos rodeiam?
são sempre interessantes novos sumos e sabores.