terça-feira, agosto 19, 2008

segunda-feira, agosto 11, 2008

Tributo ao lutador pela Liberdade - Mahmud Darwich

NESTA TERRA


Nesta terra há coisas que merecem viver: a hesitação de Abril, o cheiro do pão ao amanhecer, as opiniões duma mulher acerca dos homens, os escritos de Ésquilo, o despertar do amor, a erva sobre as pedras, as mães erguidas sobre um fio de flauta e o medo que a lembrança inspira aos conquistadores.

Nesta terra há coisas que merecem viver: o fim de Setembro, uma mulher que entra nos quarenta, com todo o seu vigor, a hora do sol na prisão, as nuvens que imitam um bando de criaturas, as aclamações dum povo pelos que caminham, sorridentes, para a morte e o medo que as canções inspiram aos tiranos.

Nesta terra há coisas que merecem viver: nesta terra está a dona da terra, mãe dos prelúdios e dos epílogos. Chamavam-lhe Palestina. Chama-se ainda Palestina. Minha Dama, eu mereço, mereço viver, porque tu és a minha Dama.


TAMBÉM NÓS AMAMOS A VIDA


Também nós amamos a vida quando podemos.
Dançamos entre dois mártires e no meio deles erguemos um minarete de violetas ou uma palmeira.

Também nós amamos a vida quando podemos.

Ao bicho-da-seda roubamos um fio para tecer o nosso céu e estancar este êxodo.
Abrimos a porta do jardim para que o jasmim saia para a rua como um dia bonito.

Também nós amamos a vida quando podemos.

Na morada que escolhemos, cultivamos plantas vivazes e recolhemos os mortos.
Sopramos na flauta a cor da distância,
desenhamos um relincho no pó do caminho.
E escrevemos os nossos nomes, pedra-a-pedra. Tu, ó raio, ilumina a nossa noite, ilumina-a um pouco.

Também nós amamos a vida quando podemos.

tradução de Albano Martins


Em memória de
MAHMUD DARWICH
(1942 - 2008)
(RIP)

*
Mahmud Darwich nasceu em 1942 em Birwa, na Galileia, a poucos quilómetros de São João d'Acre. Em 1948, as tropas israelitas obrigam-no a partir com a família para o exílio, do qual regressa clandestinamente, um ano depois. Cinco vezes preso, entre 1961 e 1967, refugia-se, em 1970, no Cairo e, em 1972, em Beirute, no Líbano, que abandona, entretanto, em 1982, aquando da invasão do país pelas forças judaicas. A sua vida repartiu-se nos últimos tempos, entre Amã, na Jordânia, e Ramallah, na Palestina. Considerado um dos mais importantes poetas árabes contemporâneos, é autor duma extensa e complexa obra, atravessada ora por um tom revolucionário e patriótico, ora por um sopro épico e lírico. É também autor de diversas obras em prosa, onde estão reunidos os numerosos artigos publicados na imprensa, designadamente na revista literária al-Karmil, que fundou em Beirute e dirigiu a partir de Ramallah.

quarta-feira, agosto 06, 2008

1atemática≠

descreve-se um arco
arqueia-se o corpo,

sacia-se o momento

em tempos de tempo morto


no alpendre do grito

a sombra é um arrastar de profundidade


o olhar fecha-se... à velocidade de uma ferida que recupera

onde o ar seca

-

o teu texto se alonga ao desnecessário
+
chato

+

plano

por
x

triste

mas

÷-te
em mil
e perco-te nos molhos da tua alma.