NESTA TERRA
Nesta terra há coisas que merecem viver: a hesitação de Abril, o cheiro do pão ao amanhecer, as opiniões duma mulher acerca dos homens, os escritos de Ésquilo, o despertar do amor, a erva sobre as pedras, as mães erguidas sobre um fio de flauta e o medo que a lembrança inspira aos conquistadores.
Nesta terra há coisas que merecem viver: o fim de Setembro, uma mulher que entra nos quarenta, com todo o seu vigor, a hora do sol na prisão, as nuvens que imitam um bando de criaturas, as aclamações dum povo pelos que caminham, sorridentes, para a morte e o medo que as canções inspiram aos tiranos.
Nesta terra há coisas que merecem viver: nesta terra está a dona da terra, mãe dos prelúdios e dos epílogos. Chamavam-lhe Palestina. Chama-se ainda Palestina. Minha Dama, eu mereço, mereço viver, porque tu és a minha Dama.
TAMBÉM NÓS AMAMOS A VIDA
Também nós amamos a vida quando podemos.
Dançamos entre dois mártires e no meio deles erguemos um minarete de violetas ou uma palmeira.
Também nós amamos a vida quando podemos.
Ao bicho-da-seda roubamos um fio para tecer o nosso céu e estancar este êxodo.
Abrimos a porta do jardim para que o jasmim saia para a rua como um dia bonito.
Também nós amamos a vida quando podemos.
Na morada que escolhemos, cultivamos plantas vivazes e recolhemos os mortos.
Sopramos na flauta a cor da distância,
desenhamos um relincho no pó do caminho.
E escrevemos os nossos nomes, pedra-a-pedra. Tu, ó raio, ilumina a nossa noite, ilumina-a um pouco.
Também nós amamos a vida quando podemos.
Nesta terra há coisas que merecem viver: a hesitação de Abril, o cheiro do pão ao amanhecer, as opiniões duma mulher acerca dos homens, os escritos de Ésquilo, o despertar do amor, a erva sobre as pedras, as mães erguidas sobre um fio de flauta e o medo que a lembrança inspira aos conquistadores.
Nesta terra há coisas que merecem viver: o fim de Setembro, uma mulher que entra nos quarenta, com todo o seu vigor, a hora do sol na prisão, as nuvens que imitam um bando de criaturas, as aclamações dum povo pelos que caminham, sorridentes, para a morte e o medo que as canções inspiram aos tiranos.
Nesta terra há coisas que merecem viver: nesta terra está a dona da terra, mãe dos prelúdios e dos epílogos. Chamavam-lhe Palestina. Chama-se ainda Palestina. Minha Dama, eu mereço, mereço viver, porque tu és a minha Dama.
TAMBÉM NÓS AMAMOS A VIDA
Também nós amamos a vida quando podemos.
Dançamos entre dois mártires e no meio deles erguemos um minarete de violetas ou uma palmeira.
Também nós amamos a vida quando podemos.
Ao bicho-da-seda roubamos um fio para tecer o nosso céu e estancar este êxodo.
Abrimos a porta do jardim para que o jasmim saia para a rua como um dia bonito.
Também nós amamos a vida quando podemos.
Na morada que escolhemos, cultivamos plantas vivazes e recolhemos os mortos.
Sopramos na flauta a cor da distância,
desenhamos um relincho no pó do caminho.
E escrevemos os nossos nomes, pedra-a-pedra. Tu, ó raio, ilumina a nossa noite, ilumina-a um pouco.
Também nós amamos a vida quando podemos.
tradução de Albano Martins
Em memória de
MAHMUD DARWICH
(1942 - 2008)
(RIP)
*
Mahmud Darwich nasceu em 1942 em Birwa, na Galileia, a poucos quilómetros de São João d'Acre. Em 1948, as tropas israelitas obrigam-no a partir com a família para o exílio, do qual regressa clandestinamente, um ano depois. Cinco vezes preso, entre 1961 e 1967, refugia-se, em 1970, no Cairo e, em 1972, em Beirute, no Líbano, que abandona, entretanto, em 1982, aquando da invasão do país pelas forças judaicas. A sua vida repartiu-se nos últimos tempos, entre Amã, na Jordânia, e Ramallah, na Palestina. Considerado um dos mais importantes poetas árabes contemporâneos, é autor duma extensa e complexa obra, atravessada ora por um tom revolucionário e patriótico, ora por um sopro épico e lírico. É também autor de diversas obras em prosa, onde estão reunidos os numerosos artigos publicados na imprensa, designadamente na revista literária al-Karmil, que fundou em Beirute e dirigiu a partir de Ramallah.
MAHMUD DARWICH
(1942 - 2008)
(RIP)
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Mahmud Darwich nasceu em 1942 em Birwa, na Galileia, a poucos quilómetros de São João d'Acre. Em 1948, as tropas israelitas obrigam-no a partir com a família para o exílio, do qual regressa clandestinamente, um ano depois. Cinco vezes preso, entre 1961 e 1967, refugia-se, em 1970, no Cairo e, em 1972, em Beirute, no Líbano, que abandona, entretanto, em 1982, aquando da invasão do país pelas forças judaicas. A sua vida repartiu-se nos últimos tempos, entre Amã, na Jordânia, e Ramallah, na Palestina. Considerado um dos mais importantes poetas árabes contemporâneos, é autor duma extensa e complexa obra, atravessada ora por um tom revolucionário e patriótico, ora por um sopro épico e lírico. É também autor de diversas obras em prosa, onde estão reunidos os numerosos artigos publicados na imprensa, designadamente na revista literária al-Karmil, que fundou em Beirute e dirigiu a partir de Ramallah.
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