envolto em águas paradas...
num poço eu escrevo...
as paredes como papel...
o corpo como caneta...
o sangue como tinta.
a parede faz-me doer o corpo
mas a voz doi-me mais...
por não haver ouvinte.
tenho saudades de não ter dor e pensar que a tinha.
saudades de me queixar... e pensar que tinha dor...
hoje questiono-me...
hoje rasgo o meu corpo na áspera parede...
e os ouvidos da áspera parede... ouvem-me... e entendem-me.
que bom ter quem me ouve...
em breve espalhar-me-ei pelo poço e fora dele...
em breve comer-me-ão por aqui...
dissipar-me-ei... em bichos que corroem os restos do teu poema...
e as primeiras chuvas lavarão as memórias da dor escrita.
sou um lírico que sofre por não ter...
que sofre por não saber... como não sofrer em silêncio.
estou quase a esvair-me de encontra os braços da árvore que não me deixa afogar
quase a beber o último travo que me levará a ti...
que me envolverá em ti...
que me... em ti...
em ti...
em...
...
..
.
.
.
ex-nós
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